segunda-feira, 18 de maio de 2015

"Fiquei magoado, não por teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te." Friedrich Nietzsche

Muito já foi dito sobre traição e até mapeados os possíveis motivos que levam as pessoas a traírem, entretanto quando falamos sobre o tema, podemos tentar enxergá-lo de maneira mais abrangente. Será que a traição acontece da forma como sempre acreditamos e nas situações que sempre acreditamos? Será que há culpados? Será que existe "traído" e 'traidor"?
O texto a seguir, tem o objetivo de provocar uma reflexão acerca desta atitude reprovável e temida por muitos, mas que a maioria das pessoas já experimentou em vários momentos e tipos de relacionamentos.

Em primeiro lugar, é importante pensarmos sobre uma das principais motivações humanas: a SEGURANÇA! Precisamos nos cercar de certezas e nos sentir seguros. Buscamos esta confiança em pessoas, situações, coisas, empresas, etc. Quase como um capricho, exigimos ser atendidos nesta necessidade e na verdade consideramos natural que todos tenham o mesmo conceito sobre isso.

Contudo, muitas vezes nos esquecemos de um "detalhe"... Esta situação ideal de estabilidade envolve outras coisas ou pessoas sobre as quais não temos nenhum poder. Em outras palavras, "terceirizamos" a segurança da qual precisamos e com isso ficamos vulneráveis.
Quando nos sentimos fragilizados e inseguros, tendemos a nos anular ou evitar exposição e contendas com o objetivo de resgatar ou garantir esta segurança que pensamos ser real.

Quando nos anulamos, passamos a viver por outras vidas em detrimento da nossa. A anulação, aliás, pode ser muito mais comum do que imaginamos, sendo o comprometimento com si mesmo rotulado de "egoísmo" pelo senso comum e então vem a culpa... Mas isso fica para outro momento.
Tendemos a criar papéis e personagens de acordo com a situação e a expectativa de outras pessoas. Quando evitamos defender nossas posições para não desagradar quem quer que seja, estamos implorando por aceitação e, novamente, abrindo mão de nosso EU verdadeiro.

Então, onde começa a traição?

Considerando os fatos acima, somos nós os primeiros a nos trair de uma maneira talvez inconsciente, mas totalmente comprometedora que reverbera em todas as áreas da nossa vida e até das vidas de outras pessoas.

Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, traímos quando mentimos sobre nossos sentimentos por alguém por apego, medo da solidão ou até mesmo por um motivo considerado "nobre" como poupá-lo de mágoas, mas surpreendendo-o mais tarde com a verdade crua quando a situação ficar insustentável. Quando não nos mostramos verdadeiramente a quem amamos damos margem às falsas impressões ou expectativas que resultam em decepções - e mais traições! O fator caráter – ou a falta dele – também deve ser considerado, mas isso também fica para outra história.

Quando somos transparentes, garantimos o direito de escolha do outro, sobre querer ou não conviver com a nossa verdade. Da mesma forma, asseguramos o nosso direito de viver uma vida que pode não ser a "ideal", com a pessoa que consideramos ideal em nossa fantasia, mas que será uma vida autêntica! Além disso, sendo honestos primeiramente com nós mesmos, podemos encontrar pessoas que de fato nos aceitem como somos, sem máscaras e mentiras. Isso é o mais próximo da "segurança" e evita a ansiedade!

E na vida profissional? Traímos, quando aceitamos o conforto do que já é familiar para nós, mesmo sendo uma atividade que não nos representa, que não nos impulsiona e não gera nenhum tipo de desenvolvimento individual ou coletivo. Assim, nos tornamos negligentes recebendo como resposta - e na mesma medida - a indiferença, a insegurança, a escassez e invariavelmente a mesma deslealdade. 
Ao sermos fiéis à nossa essência, ao conhecermos nossos limites e termos a coragem de abrir mão de um trabalho que não é relevante em nossa vida, buscando realmente a nossa Missão, quando vivemos de acordo com nossos valores à despeito até da necessidade de um salário, estamos sendo honestos e "desapegando da insatisfação".

Não menos importante, na vida social e familiar, nos traímos quando tomamos decisões baseadas no julgamento e conceitos das outras pessoas e em seus "certos e errados".
Aceitar que a segurança e aceitação as quais buscamos fora de nós não são reais, pode ser um ponto de partida para elevar a nossa autoconfiança, pois esta é perene e independente... É aquilo que podemos contar! Na verdade, a única pessoa com a qual podemos contar a qualquer momento somos nós mesmos e precisamos estar fortes para nos atender, sempre que precisarmos.

A reflexão é sempre mais fácil que as ações que provocam as mudanças efetivas, mas sem ela agimos automaticamente, sem questionamentos e sem compreender a raiz dos nossos problemas, ainda mais quando se tratam de situações que machucam, como as trazidas - superficialmente - neste texto.