segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amável Solidão

Em cenas de infância, lembro-me de remédios aparentemente intragáveis os quais deveria tomar para
ficar melhor ou me livrar de uma dor. Quando minha mãe se aproximava trazendo-os (tema principal da trilha sonora do filme Tubarão) eu já fazia a "careta" antes de abrir a boca e ao mesmo tempo fechava os olhos para tentar diminuir o sofrimento.
Mas algumas vezes o gosto era realmente bom! Eu abria os olhos e sorria - surpresa!

Hoje, frequentemente, ainda fujo dos "remédios ruins" - ou fecho os olhos para tentar diminuir o sofrimento. (risos)
O tempo nos faz mais experientes, mas alguns temores parecem atravessar décadas ao nosso lado com a mesma intensidade, como o medo da solidão por exemplo.

No entanto, a cena de infância repetiu-se em minha vida adulta recentemente.
A solidão que causava desconforto, é para mim neste momento o remédio aparentemente intragável, necessário para curar minhas dores profundas e com ótimo sabor no final. Mesmo em altas doses, não me faz sentir triste ou insegura.
Não a solidão.

Há meses sem vida social e sem qualquer relacionamento afetivo, como nunca havia ficado - e por opção - descobri que a solidão não é tão amarga. Ela me conforta e me aproxima de mim. Consigo sorrir para ela, compreendê-la e muitas vezes até procurá-la nos momentos em que ela parece querer me deixar, por influências externas. (risos)

Não sei quando voltarei à vida que todos acham plausível viver e cujos "remédios" resumem-se em agitos sociais, turbilhão de emoções, conquistas românticas - efêmeras ou não - e tudo o que é considerado "normal" pela maioria das pessoas e seus padrões de comportamento.

Desta forma, sei que o tratamento involuntário mas necessário, tem me ensinado muitas coisas sobre mim.
Ele tem o poder ainda de me fazer gostar mais do que eu sou e de me mostrar o que eu não gosto mais e tenho urgência de mudar.

Acho que todos, alguma vez na vida, devem sentir a solidão ao redor - fiel e "companheira". (risos)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Festas e Rituais de final de ano - "Bullshit" !

Todos os anos são exatamente iguais: luzes coloridas piscando em toda a parte, mensagens sentimentais, promessas de dias melhores, promessas de pessoas melhores, correria para comprar presentes, aves congeladas e espumantes.

Em seguida, vem a outra maratona para conseguir chegar ao litoral depois de um congestionamento que toma várias preciosas horas, para pular as "ondinhas", comer romãs fazendo pedidos, assistir a qualquer queima de fogos, e, tudo isso usando a tradicional roupa branca. Sem falar sobre o consumismo, exacerbado, da época.

Bem, se me dispusesse a falar sobre consumismo cairia no lugar comum e renderia, além disso, dezenas de linhas a mais no texto.
Por este motivo, prefiro focar na "previsibilidade dos comportamentos".

Creio que em quase todas as culturas, há uma necessidade de fechar ciclos e preparar-se para novos acontecimentos os quais, invariavelmente, acreditamos que serão melhores no próximo ano.
A maioria das pessoas acredita que a melhor época para completar ciclos, simbolicamente, seja no final de nosso ano solar.
Portanto, repetir todos anos o mesmo comportamento traz a sensação de dever cumprido e certa tranquilidade mas, paradoxalmente, traz também ansiedade!

Explicando a ansiedade, tratam-se de rituais fugazes, mas que demandam muito tempo e recursos na sua preparação - e nem sempre temos tantos recursos financeiros e tempo disponíveis!
Nestes ritos pedimos sempre mais dinheiro, mais amor, mais realização profissional, harmonia em família e muitas outras coisas e nada pode ser esquecido!
Além dos pedidos, haverá sempre as promessas feitas de coração para nós mesmos, porém, estas são mais difíceis de realizar...

Lembra-se sobre "repetir comportamentos"?
Depois das comemorações e de volta à rotina da vida real, a tendência é que estes se repitam, pois não há mudança pessoal significativa apenas pelo fato de arrancarmos a última folha do calendário. Neste caso, arrastaremos as atitudes positivas e negativas inerentes de cada um, para o novo ano com seu previsível e cansativo final.

Assim, algumas pessoas como eu, vivem o início e o fim de um ano da mesma forma, ou seja, pela ótica dos "acontecimentos cíclicos naturais" apenas.
Por mais simbólicos que sejam os rituais chamados de Festas, o que vai determinar o sucesso dos dias que virão é a maneira como agiremos em cada um deles.
Não faz diferença ser novo ou velho o ano, se temos sempre as mesmas atitudes diante da vida, os mesmos conceitos e opiniões - independente se serem ou não obsoletos.

Acredito que a mágica só é possível a partir de uma consciência de que não existe mágica.