segunda-feira, 7 de abril de 2014

A festa da sua vida

Imagine que uma festa esteja acontecendo em sua casa. Trata-se de uma grande festa bem organizada, porém sujeita a acontecimentos não planejados, como em qualquer evento. Muitas pessoas estão chegando, convidadas ou não, e algumas já estão lá. Entre elas, estão as pessoas mais importantes de sua vida, como seus pais, avós, tios, irmãos, filhos, amigos, namorado(a) ou cônjuge, e quem mais você considerar desta forma. Como você é uma pessoa generosa e tem boa memória, não se esqueceu de convidar ex-namorados(as) – ainda que isso pudesse comprometer seu atual relacionamento! –professores antigos, colegas de trabalho, ex-colegas de trabalho, seus gestores antigos e atuais. Você também convidou meros conhecidos, mas que em algum momento tiveram participação positiva - ou não - em sua vida, e outros apareceram sem ser convidados.
Imagine agora, que cada uma destas pessoas tenha levado um prato de doces diferente, além dos escolhidos e comprados por você. Ao longo da festa, você experimenta vários destes doces... Alguns são bonitos de olhar, mas tem um gosto péssimo. Outros doces além de bonitos são deliciosos enquanto outros não têm uma aparência convidativa, mas são igualmente deliciosos. Alguns deles você até ficou com desejo de experimentar, porém, achou que não te fariam bem e não provou. Outros foram oferecidos a você e degustados por delicadeza, porém sem vontade.

Aos poucos os convidados foram embora, no entanto, para você a "festa" iria continuar no dia a dia já que percebeu que sobraram muitos doces. Na hora de guardá-los na geladeira, você os distribui por todos os espaços livres e ela fica lotada. Algum tempo depois, alguns doces foram consumidos, alguns se deterioraram, outros, ficaram escondidos nos espaços da geladeira e lá permaneceram. No entanto, e apesar de não vê-los você sabia que ainda continuavam lá. Você continuou comprando alimentos e guardando-os na sua geladeira, junto com os doces, mas sem esvaziá-la ou higienizá-la, isso, devido às atividades do dia a dia que tomam muito de seu tempo e a geladeira definitivamente não é prioridade...

Sem se dar conta ainda de que os demais doces estariam com seus prazos de validade quase vencidos, continuou mantendo-os em sua geladeira, afinal foram trazidos e oferecidos a você por pessoas as quais você ama, por outras pelas quais tem consideração, carinho e respeito, ou simplesmente gratidão por terem lhe prestado algum favor. Os demais doces comprados por você, além de terem custado dinheiro, foram difíceis de encontrar e transportar. Não achava justo se livrar de todos eles, mesmo porque te fizeram feliz num passado recente e havia guardado mesmo aqueles que você não gostou do sabor, não somente por serem bonitos e coloridos mas por terem sua representatividade. Então, sem perceber, comeu alguns doces que já estavam vencidos, o que provocou uma intoxicação alimentar.

Sem ânimo para fazer a limpeza necessária e sem saber o que fazer com os excessos, chegou um momento em que a situação ficou crítica já que a geladeira estava lotada, com os doces deteriorados e sem nenhum espaço para alimentos frescos. Neste momento, você decide que está na hora de fazer a limpeza, de se livrar do que não serve mais, ainda que o cansaço lhe domine e nem saiba por onde começar.

Agora, de volta à realidade...

A festa neste caso, representa a sua VIDA e a geladeira a sua MENTE. Os doces representam todas as crenças e conceitos adquiridos através de experiências boas e ruins que podem ser suas, ou de outras pessoas as quais você teve conhecimento. Além disso, suas próprias convicções, construídas ao longo do tempo e de acordo com suas escolhas e situações, opiniões, sugestões e conselhos recebidos por todas essas pessoas que tiveram contatos com você - tenham sido eles intensos ou superficiais.

A despeito da comparação um tanto inusitada, pode-se ilustrar o que acontece quando não limpamos nossa mente de conceitos obsoletos, de padrões de pensamentos já deteriorados ou de crenças que não nos servem mais, porque ”aprendemos assim”, porque “nossos antepassados faziam desta forma” e somos fiéis a eles, ou por nossas experiências traumáticas. Com isso, vivemos muitas vezes destinos que não são nossos, limitamos nosso processo evolutivo em função até de experiências vividas por outras pessoas pelo péssimo costume que temos de acreditar que as situações se repetem para todos da mesma forma, como se seguissem obrigatoriamente um padrão e sem considerarmos as tantas variáveis existentes.

Muitas vezes, deixamos de conceber o novo pelo desejo – consciente ou inconsciente - de sermos aprovados e aceitos pelo meio em que vivemos, ou para exibir uma aparente felicidade. Retemos tudo o que nos é oferecido ou imposto para nos cercarmos de uma segurança muito relativa e para nos isentarmos da responsabilidade por nossas próprias vidas. Mas, que tal de tempos em tempos, planejarmos “festas” diferentes, convidar pessoas diferentes que tragam doces melhores e na medida certa. E se houver sobras, podemos consumir os que forem mais gostosos, aprender a fazer outros para os dias que tivermos vontade ou oferecer alguns para as pessoas que os aceitarem. Os demais? Dispensaremos, simplesmente, e antes que fiquem deteriorados e impossíveis de serem consumidos e oferecidos.

2 comentários:

  1. Amei o texto e a colocação "Paulistana"!! Confesso que me senti nua ao me deparar com a descrição de uma situação que parece ser exatamente minha, como se alguém estivesse fazendo uma narração descritiva ao olhar pelo buraquinho da porta. Quantas vezes mais vamos precisar nos intoxicar? O que mais vai precisar acontecer para descobrirmos que ser nos mesmos e ouvir o coração é o melhor a se fazer??

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  2. Rssssss...
    É preciso disciplina e vontade de mudar. Reeducar os pensamentos. E você já faz isso muito bem!

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